terça-feira, 18 de junho de 2013

Iberê Camargo


   Nascido em Restinga Seca, RS, foi um dos mais legítimos representantes do abstracionismo expressionista no Brasil. Foi pintor e gravador, formado pela Guignard, onde ganhou um prêmio de viagem ao exterior (1947) na divisão moderna do Salão Nacional de Belas-Artes. 

   Estudou gravuras com Carlo Alberto Petrucci, em Roma, e pintura com André Lhote e Giorgio De Chirico, em Paris. Ao voltar para o Brasil, morou no Rio de Janeiro e dedicou-se ao ensino da gravura, sobretudo em metal, técnica na qual se especializou. Organizou os salões Preto e Branco (1954) e Miniatura (1955) e consolidou o abstracionismo expressionista com sua obra Carretéis (1960). 


   Premiado como o melhor pintor nacional na VI Bienal de São Paulo (1961), cresceu em prestígio tanto no Brasil como no exterior. Apresentou-se em exposições individuais ou coletivas em cidades como Washington, Nova York, Paris, Montevidéu e Barcelona, e coroou sua carreira com a realização de um painel de grandes proporções para a sede da Organização Mundial de Saúde, em Genebra (1966). Nos últimos cinco anos de vida morou em Porto Alegre, capital estadual onde morreu.

Espaço com Carretéis - Óleo sobre tela - 100 x 140 cm - 1960

Fantasmagoria (1987)


As Idiotas (1991).

“ – Minha contestação é feita de renúncia, de não-participação, de não-conivência, de não-alinhamento com o que não considero ético e justo. Sou como aqueles que, desarmados, deitam-se no meio da rua para impedir a passagem dos carros da morte. Esta forma de resistência, se praticada por todos, se constituiria em uma força irresistível [...]
– O drama [...] trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais íntima que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida.
– Por que sou assim?
– Porque todo homem tem um dever social, um compromisso com o próximo.
– Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é a minha vida, é tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo.
– Sou impiedoso e crítico com minha obra. Não há espaço para alegria. É difícil revelar o significado das coisas. O Homem olha a sua face, interroga-se e não sabe quem é.
– Acho que toda grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da dor.
– A vida dói [...]”.


Por: Rodrigo

Aleijadinho

   É considerado Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em 29 de agosto de 1730 em Vila Rica, filho de uma escrava com um mestre de obras, começou sua vida artística ainda na infância, observando o trabalho de seu pai.
   É um dos maiores artistas barrocos do Brasil e suas esculturas e obras de arquitetura encantaram a sociedade brasileira do século XVIII.
   O artista usava em suas obras, madeira e pedra-sabão (matéria-prima brasileira), além de misturar diversos estilos barrocos (rococó e estilos clássico e gótico).
   Aos 40 anos, ficou doente. Ninguém sabe ao certo o que o houve, mas especula-se que teve lepra e foi por causa da doença que recebeu o famoso apelido.
   Aos poucos, foi perdendo o movimento das mãos e dos pés e para trabalhar pedia ao seu ajudante para amarrar as ferramentas no seu braço. Mesmo assim, continuou trabalhando em igrejas e altares de Minas Gerais.
   Morreu doente e abandonado em 18 de novembro de 1814. Infelizmente, a importância de seu trabalho só foi reconhecida após sua morte.

ALGUMAS DE SUAS OBRAS
  • Igreja de São Francisco de Assis (considerada uma das maiores realizações de Aleijadinho. Ele esculpiu, talhou e ornamentou a parte interna da igreja)
  • Igreja de Nossa Senhora do Carmo
  • Palácio dos Governadores
  • Os Passos da Paixão: são esculturas em madeira feitas por Aleijadinho e pintadas por Ataíde que representam o calvário de Cristo. Estão dispostas em 6 capelas ao longo do Morro do Maranhão, diante da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (em Congonhas do Campo). Na frente desta igreja estão as famosas estátuas d’Os Doze Profetas, esculpidos em pedra-sabão, em tamanho natural. Consta que Aleijadinho esculpiu Os Doze Profetas (considerada sua obra mais conhecida) com a ajuda de escravos e com instrumentos amarrados no pulso. As obras teriam começado em 1796 e terminado alguns anos antes da sua morte em 1814.
  • Igreja de São Francisco de Paula (imagem do padroeiro)

A vida e obra desse excelente artista foram retratadas na TV e no cinema:
- Cristo em Lama (cinema)
- Aleijadinho – Paixão, Glória e Suplício (cinema)
- No Caso Especial da Rede Globo com Stênio Garcia (TV)





Por: Evelyn

Tarsila do Amaral

   Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha de José Estanislau do Amaral e Lydia Dias de Aguiar do Amaral. Era neta de José Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em razão da imensa fortuna que acumulou, abrindo fazendas no interior de São Paulo. Seu pai herdou apreciável fortuna e diversas fazendas nas quais Tarsila passou a infância e adolescência.
   Estudou em São Paulo, no Colégio Sion, e completou seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pintou seu primeiro quadro, “Sagrado Coração de Jesus”, aos 16 anos. Casou-se em 1906 com André Teixeira Pinto, com quem teve sua única filha, Dulce. Separou-se dele e começou a estudar escultura, em 1916, com Zadig e Mantovani em São Paulo. Posteriormente estudou desenho e pintura com Pedro Alexandrino. Em 1920 embarcou para a Europa, objetivando ingressar na Académie Julian, em Paris.
   Freqüentou também o ateliê de Émile Renard. Em 1922, teve uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses. Nesse mesmo ano regressou ao Brasil e se integrou com aos intelectuais do grupo modernista. Fez parte do “grupo dos cinco” juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Nessa época começou seu namoro com o escritor Oswald de Andrade.
   Embora não tenha sido participante da “Semana de 22”, integrou-se ao Modernismo que surgia no Brasil, visto que na Europa estava fazendo estudos acadêmicos.
   Voltou à Europa em 1923 e teve contato com os modernistas que lá se encontravam: intelectuais, pintores, músicos e poetas. Estudou com Albert Gleizes e Fernand Léger, grandes mestres cubistas. Manteve estreita amizade com Blaise Cendrars, poeta franco-suiço que visita o Brasil em 1924. Iniciou sua pintura “pau-brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. Em 1926 expôs em Paris, obtendo grande sucesso. Casou-se no mesmo ano com Oswald de Andrade. Em 1928 pintou o “Abaporu”, para dar de presente de aniversário a Oswald, que se empolgou com a tela e criou o Movimento Antropofágico. É deste período a fase antropofágica da sua pintura. Em 1929 expõe individualmente pela primeira vez no Brasil. Separa-se de Oswald em 1930.
   Em 1933 pinta o quadro “Operários” e dá início à pintura social no Brasil. No ano seguinte participou do I Salão Paulista de Belas Artes. Passa a viver com o escritor Luís Martins por quase vinte anos, de meados dos anos 30 a meados dos anos 50. De 1936 a 1952, trabalhou como colunista nos Diários Associados.
   Nos anos 50 volta ao tema “pau brasil”. Participou em 1951 da I Bienal de São Paulo. Em 1963 teve sala especial na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte participação especial na XXXII Bienal de Veneza.
   Faleceu em São Paulo, no dia 17 de janeiro de 1973.
Antropofagia

Autoretrato


A Negra

Operários

A Favela


Por: Ivan

Pedro Américo

   Pedro Américo de Figueiredo e Melo (Areia, 29 de abril de 1843Florença, 7 de outubro de 1905) foi um romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor brasileiro, mas é mais lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional.
   Desde cedo demonstrou inclinação para as artes, sendo considerado um menino-prodígio. Ainda muito jovem participou como desenhista de uma expedição de naturalistas pelo nordeste, e recebeu apoio do governo para se formar na Academia Imperial de Belas Artes. Fez seu aperfeiçoamento artístico em Paris, estudando com mestres célebres, mas se dedicou também à ciência e à filosofia. Logo após seu retorno ao Brasil passou a dar aulas na Academia e iniciou uma carreira de sucesso, ganhando projeção com grandes pinturas de caráter cívico e heróico, inserindo-se no programa civilizador e modernizador do país fomentado pelo imperador Dom Pedro II, do qual a Academia Imperial era o braço regulador e executivo na esfera artística.
   Seu estilo na pintura, em consonância com as grandes tendências de seu tempo, fundia elementos neoclássicos, românticos e realistas, e sua produção é uma das primeiras grandes expressões do Academismo no Brasil em sua fase de apogeu, deixando obras que permanecem vivas até hoje no imaginário coletivo da nação, como Batalha de Avaí, Fala do Trono, Independência ou Morte! e Tiradentes esquartejado, reproduzidas aos milhões em livros escolares de todo o país. Na segunda metade de sua carreira se concentrou em temas orientalizantes, alegóricos e bíblicos, que preferia pessoalmente e cujo mercado estava em expansão, mas esta parte de sua obra, em sua época muito popular, rápido saiu de moda, não recebeu atenção dos especialistas em tempos recentes e permanece muito pouco conhecida.
   Passou sua carreira entre o Brasil e a Europa, e em ambos os lugares seu talento foi reconhecido, recebendo grandes favores da crítica e do público mas também levantando polêmicas apaixonadas e tenazes adversários. Para as novas vanguardas Pedro Américo era um pintor de dotes inegavelmente raros, mas acima de tudo se tornou um dos principais símbolos de tudo o que o sistema acadêmico alegadamente tinha de conservador, elitista e distante da realidade nacional. Embora os modernistas tenham tentado impiedosamente ofuscar sua estrela - como a de todos os acadêmicos -, seus grandes méritos artísticos seguramente fazem dele um dos maiores pintores que o país já produziu, e sua imensa fama e influência em vida, os candentes debates que despertou em sua atuação institucional, cultural e política, em um momento crítico de articulação de um novo sistema de símbolos para um país há pouco emergente da condição de colônia e de consolidação de um novo sistema de arte sobre bases metodológicas e conceituais modernas, o destacam como um dos nomes mais importantes da história da cultura brasileira do fim do século XIX.
   Adquiriu uma sofisticação intelectual absolutamente incomum para os artistas brasileiros de seu tempo, interessando-se por uma ampla variedade de temas e buscando preparo sólido. Foi Bacharel em Ciências Sociais pela Sorbonne e Doutor em Ciências Naturais pela Universidade Livre de Bruxelas. Foi diretor da seção de antiguidades e numismática do Museu Imperial e Nacional; professor de desenho, estética e história da arte na Academia Imperial, e deputado constituinte por Pernambuco. Deixou volumosa produção escrita sobre estética, história da arte e filosofia, onde, inspirado no modelo clássico, deu especial atenção à educação como a base de todo o progresso e reservou um papel superior para a arte na evolução da humanidade. Ganhou diversas homenagens e honrarias, entre elas o título de Pintor Histórico da Imperial Câmara, a Ordem da Rosa e a Ordem do Santo Sepulcro.

Estilo e técnica

    Era dono de uma técnica sofisticada, dava grande atenção ao detalhe e era rápido no trabalho. Pedro Américo, para o bem ou para o mal, foi sempre um acadêmico, mas o acadêmico versátil e eclético da fase mais influente e mais contraditória do Academismo internacional, que se definia como uma complexa mescla de referências clássicas, românticas e realistas. Sua obra expressa aspirações idealistas típicas do classicismo, refletidas nos seus quadros históricos "didáticos" e suas alegorias moralizantes, no seu senso de composição hierarquizada, e até nos seus escritos de caráter humanista; sua caracterização detalhada das figuras e objetos às vezes se aproxima do Realismo, mas sua expressão estilística é principalmente romântica, o que na verdade não chegava a ser uma contradição, visto que o Romantismo foi por si mesmo uma corrente eclética e idealista e em muito devedora dos clássicos. Mas o Romantismo brasileiro na pintura, onde se insere Pedro Américo, foi o da terceira geração romântica, quando o movimento já havia perdido seu caráter original, arrebatado e revolucionário, transformando-se numa corrente mais branda e conformista, mais esteticista e sentimental, que se aburguesava rapidamente e se tornava em muitos aspectos genuinamente "popular".


Sócrates afastando Alcebíades dos braços do vício, 1861, 
Museu Dom João VI. Uma pintura histórica de sua juventude.


Batalha de Campo Grande, 1871.
Óleo sobre tela, 332 x 530 cm. Petrópolis, Museu Imperial


A Batalha de Avaí, 6×11m, 1877, Museu Nacional de Belas Artes


Tema


  Em que pese sua temática religiosa, as composições bíblicas tipificavam seu romantismo aburguesado pela ênfase decorativista e pelo amor ao exotismo. Além de serem uma preferência pessoal, eram um reflexo de uma mudança no contexto e atendiam ao gosto de um público novo, burguês e sentimental, que não era mercado para obras históricas tradicionais, mas passava a apreciar imagens que dissessem mais respeito à sua própria realidade ou fossem consumíveis sem maiores complicações.



Crítica

   Esta parte de sua obra foi severamente criticada pelos modernos por encontrarem nela excessos de sentimentalismo e intelectualismo, que o teriam levado à afetação e à artificialidade. Tais ataques lhe imprimiram marca tão negativa que até hoje esta produção em grande parte está esquecida ou é menosprezada.

Por: Gabriela

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Anita Malfatti

Anita nasceu em São Paulo no ano de 1889. Seus pais, Samuel Malfatti (engenheiro italiano) e Betty Krug, a enviaram para Lucca na Italia aos 3 anos de idade devido à atrofia no braço e mão direita, tida desde o nascimento. O tratamento não resultou positivamente, conseguintemente Anita teve de permanecer com a deficiência por toda sua vida. Miss Browne era uma governanta inglesa, e no Brasil ajudou Anita no desenvolvimento e no aprendizado da arte da escrita com a mão esquerda.

Em 1897, iniciou seus estudos no Colégio São José de freiras católicas, sendo alfabetizada e posteriormente estudou em instituiçõess protestantes. Em 1906, foi diplomada normalista pela Mackenzie College.
Enquanto estudava, seu pai faleceu e sem recursos para o sustento dos filhos, sua mãe passou a lecionar idiomas, desenho e pintura, onde foi orientada pelo pintor Carlo de Servi. Anita acompanhava e complementava as aulas, logo, sua própria mãe quem lhe ensinou os fundamentos das artes plásticas.
O desejo de Anita estudar em Paris, porém, sem o auxílio do pai, era improvável pelo fato de sua mãe trabalhar o dia todo e sua avó estar de cama. Por intermédio de suas amigas, as irmãs Shalders, as quais viajavam à Europa para estudar música, Anita, financiada por seu tio e padrinho,  teve a ideia de acompanha-las à Berlim, em 1910, sendo na época o grande centro musical da Europa.
Enquanto frequentava as aulas com suas amigas, teve o convite para estudar do artista plástico Fritz Burger, retratista que dominava a técnica pontilhista. Foi o primeiro mestre de Anita, e na mesma época ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.
Em sua estadia na Europa, visitou vários lugares e exposições, conheceu obras de diversos nomes como Harz, Van Gogh, Lovis Corinth, o qual também foi seu professor. Anita, no entanto, acabou demonstrando interesse principalmente pela pintura expressionista, e em 1913, iniciou aulas com Ernest Bischoff Culm, na mesma escola de Corinth. Infelizmente com a aproximação da guerra, Anita volta para São paulo em 1914, aos 24 anos.
São Paulo progredia, porém, a questão artística ainda era ultrapassada, sendo dominada pelas obras acadêmicas. Anita pretendia voltar a viajar à estudos, porém sem condições financeiras adequadas, resolve tentar ganhar uma bolsa pelo Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Em maio de 1914, expôs suas obras até junho do mesmo ano. Anita dependia da aprovação do Senador José de Freitas Valle para conseguir a bolsa, entretanto, ele não gostou de suas obras, criticando-a publicamente, não concedeu-lhe a bolsa. Então novamente seu tio financiou sua viagem para Nova York, em 1915, para se matricular na Art Student’s League.
Rochedos (Monhegan Island). 1915 
Na procura do melhor caminho a seguir em seus trabalhos, Anita consultava diversos professores e
após três meses de estudo decidiu desistir do curso devido ao forte conservadorismo da instituição. Suas marcas expressionistas dificilmente eram aceitas em academias de ensino tradicional. Em 1916 preparava-se para voltar ao Brasil.
Suas pinturas, segundo amigos e parentes, não traziam formas e traços suaves, eram exageradamente masculinas e grossas, e depois de sua vinda dos Estados Unidos acabaram atingindo o ápice da estranheza. Era inevitável a incompreensão de seus próximos, causando até mesmo conflitos familiares, principalmente com seu tio, sentia-se aborrecido com o investimento mau feito. O assunto virou tabu familiar, e suas obras ficaram guardadas durante anos.
Em 1917 Anita resolveu promover sua segunda exposição individual. Suas pinturas distanciavam se totalmente da metodologia clássica, uma mistura entre o original e o bizarro. Em primeiros momentos, seus traços violentos e fortes foram altamente aceitos, de forma inteiramente normal. Vendera oito quadros logo nos primeiros dias. A historia tomou volta logo após a critica de Monteiro Lobato, em 20 de dezembro de 1917, o qual destratou o estilo excêntrico e inovador de Anita, dizendo que a extravagancia de Picasso e a companhia da arte moderna teriam sido má influência para ela.
A crítica teve tamanho poder negativo sobre Anita que muitas telas já vendidas foram devolvidas e outras quase destruídas. A mídia em geral estava contra ela e a favor de Lobatto. Pouco tempo depois Oswald de Andrade publicou a única defesa feita a favor de Anita, elogiando seu talento e ousadia apresentadas em suas obras, pela mesma não ter feito meras cópias. Desse artigo novas ideias ficaram por surgir, novos artistas começavam a entender a proposta de Anita e se uniram a ela, juntamente com Mario e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida, pelo desejo de mudança no cenário artístico nacional.
O homem de sete cores. 1915-16

Em 1919, Anita inicia estudos com o pintor Pedro Alexandrino e George Fischer Elpons, ocasião essa em que conhece Tarsila do Amaral, também aluna dos mesmos. Nessa mesma época, assim como o pai, falece seu tio Jorge Krug, obrigando a fazê-la procurar por novos meios de vender suas obras, sendo uma das opções a aproximação de seu mestre Alexandrino, pintor de renome e vendia com facilidade.
Apesar da mágoa e demais fatos ocorridos com Lobatto, Anita ilustrou seus livros e juntamente dele e Menotti Del Picchia apresentaram um programa na Rádio Cultura, onde ouvintes ligavam para fazer suas perguntas aos três. Esse também foi um tempo de reflexão, assimilação do novo e de percepção sobre o efeito que as obras causaram, suas criticas e consequências. Sua vida voltava à normalidade e seguido desse tempo de recesso, participou da Semana de Arte Moderna com 22 obras.
Anita estava feliz entre o círculo modernista, uma vez que ele vinha ao encontro de suas aspirações artísticas, entraria também para o comentado grupo dos cinco.
Em agosto de 1923, Anita voltava à Europa, precisamente para Paris, onde, financiada pela bolsa de estudos do Pensionato, ficaria por cinco anos em estudo. O cenário havia mudado por todo o território Europeu devido à 1ª guerra mundial, hábitos e costumes da belle époque e academismo haviam caídos e a arte moderna se espalhara e expandia por todos os lados. Período perfeito para que Anita pudesse se atualizar e tirar a dúvida que tinha sobre qual caminho seguir na arte.
Encontrou-se com Maurice Denis, o qual trabalhava aspectos da pintura religiosa, procurando um estilo menos polêmico se comparado à época que esteve nos Estados Unidos, uma espécie de classicismo moderno, um aprender de novo com a releitura de obras antigas, transição que muitos pintores estavam passando, inclusive Picasso. No entanto, nesse meio tempo Anita perdeu um pouco de sua audácia, seguindo mais os padrões formais da pintura. Muitas de suas obras tomaram destaque pela crítica internacional.
Em setembro de 1928 Anita retorna ao Brasil, sendo recebida pelo seu antigo grupo, o qual também já estava mais evoluído e reforçado, com novos adeptos, artistas e movimentos. Mario de Andrade noticia sua chegada, como a pintora que representou o início do movimento renovador contemporâneo, que incentivou a buscar novos caminhos e maneiras de se expressar.
Mario de Andrade I. 1921-22.


Em 1929 abrira em São Paulo sua quarta individual, em 1932 dedicou-se ao ensino escolar pela Escola Normal do Mackenzie College. Com a morte de Mario de Andrade e de sua mãe, recolheu-se em uma chácara em Diadema, onde pintava a seu modo, intitulado de arte popular, em uma vida de paz e reclusão. Anita Malfatti morre em 1964 deixando como legado seu estilo único de pintar, rejeitado no principio, mas que foi adotado por gerações de artistas, sendo considerado um marco divisório na historia da arte brasileira, uma contribuição estimável da transição entre o antigo e o novo.

Por: Bruna Moretti