sexta-feira, 14 de junho de 2013

Anita Malfatti

Anita nasceu em São Paulo no ano de 1889. Seus pais, Samuel Malfatti (engenheiro italiano) e Betty Krug, a enviaram para Lucca na Italia aos 3 anos de idade devido à atrofia no braço e mão direita, tida desde o nascimento. O tratamento não resultou positivamente, conseguintemente Anita teve de permanecer com a deficiência por toda sua vida. Miss Browne era uma governanta inglesa, e no Brasil ajudou Anita no desenvolvimento e no aprendizado da arte da escrita com a mão esquerda.

Em 1897, iniciou seus estudos no Colégio São José de freiras católicas, sendo alfabetizada e posteriormente estudou em instituiçõess protestantes. Em 1906, foi diplomada normalista pela Mackenzie College.
Enquanto estudava, seu pai faleceu e sem recursos para o sustento dos filhos, sua mãe passou a lecionar idiomas, desenho e pintura, onde foi orientada pelo pintor Carlo de Servi. Anita acompanhava e complementava as aulas, logo, sua própria mãe quem lhe ensinou os fundamentos das artes plásticas.
O desejo de Anita estudar em Paris, porém, sem o auxílio do pai, era improvável pelo fato de sua mãe trabalhar o dia todo e sua avó estar de cama. Por intermédio de suas amigas, as irmãs Shalders, as quais viajavam à Europa para estudar música, Anita, financiada por seu tio e padrinho,  teve a ideia de acompanha-las à Berlim, em 1910, sendo na época o grande centro musical da Europa.
Enquanto frequentava as aulas com suas amigas, teve o convite para estudar do artista plástico Fritz Burger, retratista que dominava a técnica pontilhista. Foi o primeiro mestre de Anita, e na mesma época ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.
Em sua estadia na Europa, visitou vários lugares e exposições, conheceu obras de diversos nomes como Harz, Van Gogh, Lovis Corinth, o qual também foi seu professor. Anita, no entanto, acabou demonstrando interesse principalmente pela pintura expressionista, e em 1913, iniciou aulas com Ernest Bischoff Culm, na mesma escola de Corinth. Infelizmente com a aproximação da guerra, Anita volta para São paulo em 1914, aos 24 anos.
São Paulo progredia, porém, a questão artística ainda era ultrapassada, sendo dominada pelas obras acadêmicas. Anita pretendia voltar a viajar à estudos, porém sem condições financeiras adequadas, resolve tentar ganhar uma bolsa pelo Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Em maio de 1914, expôs suas obras até junho do mesmo ano. Anita dependia da aprovação do Senador José de Freitas Valle para conseguir a bolsa, entretanto, ele não gostou de suas obras, criticando-a publicamente, não concedeu-lhe a bolsa. Então novamente seu tio financiou sua viagem para Nova York, em 1915, para se matricular na Art Student’s League.
Rochedos (Monhegan Island). 1915 
Na procura do melhor caminho a seguir em seus trabalhos, Anita consultava diversos professores e
após três meses de estudo decidiu desistir do curso devido ao forte conservadorismo da instituição. Suas marcas expressionistas dificilmente eram aceitas em academias de ensino tradicional. Em 1916 preparava-se para voltar ao Brasil.
Suas pinturas, segundo amigos e parentes, não traziam formas e traços suaves, eram exageradamente masculinas e grossas, e depois de sua vinda dos Estados Unidos acabaram atingindo o ápice da estranheza. Era inevitável a incompreensão de seus próximos, causando até mesmo conflitos familiares, principalmente com seu tio, sentia-se aborrecido com o investimento mau feito. O assunto virou tabu familiar, e suas obras ficaram guardadas durante anos.
Em 1917 Anita resolveu promover sua segunda exposição individual. Suas pinturas distanciavam se totalmente da metodologia clássica, uma mistura entre o original e o bizarro. Em primeiros momentos, seus traços violentos e fortes foram altamente aceitos, de forma inteiramente normal. Vendera oito quadros logo nos primeiros dias. A historia tomou volta logo após a critica de Monteiro Lobato, em 20 de dezembro de 1917, o qual destratou o estilo excêntrico e inovador de Anita, dizendo que a extravagancia de Picasso e a companhia da arte moderna teriam sido má influência para ela.
A crítica teve tamanho poder negativo sobre Anita que muitas telas já vendidas foram devolvidas e outras quase destruídas. A mídia em geral estava contra ela e a favor de Lobatto. Pouco tempo depois Oswald de Andrade publicou a única defesa feita a favor de Anita, elogiando seu talento e ousadia apresentadas em suas obras, pela mesma não ter feito meras cópias. Desse artigo novas ideias ficaram por surgir, novos artistas começavam a entender a proposta de Anita e se uniram a ela, juntamente com Mario e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida, pelo desejo de mudança no cenário artístico nacional.
O homem de sete cores. 1915-16

Em 1919, Anita inicia estudos com o pintor Pedro Alexandrino e George Fischer Elpons, ocasião essa em que conhece Tarsila do Amaral, também aluna dos mesmos. Nessa mesma época, assim como o pai, falece seu tio Jorge Krug, obrigando a fazê-la procurar por novos meios de vender suas obras, sendo uma das opções a aproximação de seu mestre Alexandrino, pintor de renome e vendia com facilidade.
Apesar da mágoa e demais fatos ocorridos com Lobatto, Anita ilustrou seus livros e juntamente dele e Menotti Del Picchia apresentaram um programa na Rádio Cultura, onde ouvintes ligavam para fazer suas perguntas aos três. Esse também foi um tempo de reflexão, assimilação do novo e de percepção sobre o efeito que as obras causaram, suas criticas e consequências. Sua vida voltava à normalidade e seguido desse tempo de recesso, participou da Semana de Arte Moderna com 22 obras.
Anita estava feliz entre o círculo modernista, uma vez que ele vinha ao encontro de suas aspirações artísticas, entraria também para o comentado grupo dos cinco.
Em agosto de 1923, Anita voltava à Europa, precisamente para Paris, onde, financiada pela bolsa de estudos do Pensionato, ficaria por cinco anos em estudo. O cenário havia mudado por todo o território Europeu devido à 1ª guerra mundial, hábitos e costumes da belle époque e academismo haviam caídos e a arte moderna se espalhara e expandia por todos os lados. Período perfeito para que Anita pudesse se atualizar e tirar a dúvida que tinha sobre qual caminho seguir na arte.
Encontrou-se com Maurice Denis, o qual trabalhava aspectos da pintura religiosa, procurando um estilo menos polêmico se comparado à época que esteve nos Estados Unidos, uma espécie de classicismo moderno, um aprender de novo com a releitura de obras antigas, transição que muitos pintores estavam passando, inclusive Picasso. No entanto, nesse meio tempo Anita perdeu um pouco de sua audácia, seguindo mais os padrões formais da pintura. Muitas de suas obras tomaram destaque pela crítica internacional.
Em setembro de 1928 Anita retorna ao Brasil, sendo recebida pelo seu antigo grupo, o qual também já estava mais evoluído e reforçado, com novos adeptos, artistas e movimentos. Mario de Andrade noticia sua chegada, como a pintora que representou o início do movimento renovador contemporâneo, que incentivou a buscar novos caminhos e maneiras de se expressar.
Mario de Andrade I. 1921-22.


Em 1929 abrira em São Paulo sua quarta individual, em 1932 dedicou-se ao ensino escolar pela Escola Normal do Mackenzie College. Com a morte de Mario de Andrade e de sua mãe, recolheu-se em uma chácara em Diadema, onde pintava a seu modo, intitulado de arte popular, em uma vida de paz e reclusão. Anita Malfatti morre em 1964 deixando como legado seu estilo único de pintar, rejeitado no principio, mas que foi adotado por gerações de artistas, sendo considerado um marco divisório na historia da arte brasileira, uma contribuição estimável da transição entre o antigo e o novo.

Por: Bruna Moretti

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